Pintura alegórica a Luís de Camões


O pintor Luís Vieira-Baptista foi o artista plástico convidado a criar uma pintura de inspiração no poeta Luís de Camões.

Pintura a óleo alusiva a Camões, no ano que se celebra meio milénio do seu nascimento.


Uma pintura visionista, de que eu sou o criador, diferencia-se duma pintura visionária pois como escreveu Chakè Matossian no Manifesto "Aproximação ao Visionismo", Convento do Beato, Lisboa, 1991,


"o Visionista não prevê, não prediz, ele visiona. Visiona o mundo como se visiona um filme, tendo em vista a montagem das séries de instantes, operação na qual o olho, automatizado, actua sobre a mobilidade da imagem.

A inscrição no tempo marca a sua relação com o real e evidencia o facto do Visionista não alucinar.

Ele ilusiona."


Neste visionamento que faço de Camões, a última coisa que se pode esperar é que eu pinte uma ilustração evocando algum pormenor da vida do poeta, pois isso não acontecerá: a minha pintura é uma pintura que evoca um estado d'alma, uma referência ao seu pensamento centrífugo como vivente numa determinada época, testemunhando-a, embora "Os Lusíadas" tenha sido escrito algumas décadas depois da viagem do Gama.

No seu tempo Portugal aproximava-se do fim do seu "desígnio-mater" enquanto Nação Templária, pois D. João III extinguiu a Ordem de Cristo e introduziu a Inquisição no reino, sufocando-nos até aos dias de hoje.

Esse período conturbado tem o seu zénite com a entrada - legítima - da dinastia Filipina, algo a que Camões foi poupado por ter morrido antes de 1580. Mas toda a sua vida já é um drama, Portugal já não é o Portugal que ele canta nos seus poemas. Tudo lhe é prejudicial, a inveja dos que o viam como impedimento ao triunfo da mediocridade de que eram signatários, prendeu-o, exilou-o e só não o matou porque Violante o ajudou a desaparecer da vista.

Nos seus magníficos poemas e prosa conseguimos perceber a alma deste português de excepção. E é esse que eu vou procurar descobrir envolto no caos da mancha visionista da minha tela, resgatando-o, uma vez mais, para que possa continuar a ser celebrado como hoje o fazemos.

Caxias, 8 de Fevereiro de 2024